iguatemi x itacorubi: ser ou não ser
Fiquei em choque.
Para completar, alguns dias depois, cheguei em casa e vi os mesmos cartazes na portaria do meu prédio.
A “conclusão” foi baseada na imagem de 1938, identificando que, naquele ano, o local onde hoje é o shopping Iguatemi era uma pastagem. Na fotografia de 2002, destacou-se a empresa de veículos a Santa Fé e na de 2007, obviamente, o shopping.
Além disso, as imagens têm um perímetro em amarelo que marca os limites do manguezal.
Detalhes dos cartazes.
Óbvio que os cartazes são da incorporadora Pronta S.A., responsável pela construção do shopping, que diz ainda:
“Todas as pessoas que fazem afirmações diferentes do que comprovam as imagens fidedignas aqui mostradas devem ter objetivos obscuros e contrários à verdade fotográfica incontestável.”
A célebre conclusão.
Ridículo.
Quanto ao perímetro, nem comento: qualquer pessoa pode botar o olho e perceber que, como se diz no Rio Grande, foi “feito a facão” [de qualquer jeito]. Agora, apresentar essas imagens assim, como se fossem uma verdade absoluta, capazes de provar qualquer coisa... por favor!
Algumas informações que a Pronta S.A. “esqueceu” de fornecer:
Conforme já foi comprovado, em 1938 muito da Ilha já tinha sido alterado devido à agricultura. Ou seja, apesar de ser uma imagem “antiga”, a fotografia de 1938 não representa uma Florianópolis intocada, não sendo, portanto, parâmetro para determinar o estado original das formações vegetais. Muito pelo contrário, é a partir dessa época, quando a agricultura começa a perder força, que se pode observar uma crescente regeneração da vegetação.
Assim, no caso específico do manguezal do Itacorubi, pode-se notar na imagem de 1978 que muitas das suas áreas apresentavam vegetação em estado avançado de regeneração.
Imagem aérea de 1978. Em verde, o perímetro aproximado do manguezal do Itacorubi. A área do Iguatemi corresponde ao centro inferior da imagem, junto ao encontro das avenidas (em vermelho) e por onde passa um córrego (em azul).
(Fonte: SIMONI, MELLO, LOCH, 2006)
Análise pericial* de 2005:
Segundo a análise realizada mediante estudo de série histórica de fotografias aéreas, o terreno onde hoje está sendo edificado o Shopping Santa Mônica faz atualmente limite com o Mangue do Itacorubi. No entanto, observando-se a fotografia aérea datada de 1978, verifica-se que a área hoje ocupada pela referida construção era ocupada pelo mangue com seus recursos de flora em adiantado estado de regeneração. (SIMONI, MELLO, LOCH, 2006)
Pergunto à incorporadora:
Por que não mostraram a imagem de 1978 na sua série de cartazes?
Será que quem vê esses cartazes se convence de que eles contêm uma verdade? Isso me preocupa.
Bem, e se fosse verdade? E se por algum motivo justo aquele “pedacinho” de terra nunca tivesse sido manguezal, justificaria?
Justificaria aquele trambolho naquele lugar?
Iguatemi Florianópolis: quem precisa de APP de 30m, não é?
Mais da análise pericial*:
A construção de uma edificação do porte do Shopping Santa Mônica no entorno do manguezal funcionará, dentro da estrutura urbana local, como um pólo atrativo à uma alteração ainda maior da área no seu entorno, podendo provocar uma pressão ainda maior sobre o ecossistema do mangue. A área tende a sofrer uma valoração econômica tal que favorecerá a intensificação das atividades comerciais e residenciais em seus arredores, pressionando o remanescente do mangue no sentido das bordas para o centro, na tentativa de ocupar o território anteriormente pertencente ao mangue. Uma degradação deste porte torna irreversível a recuperação das áreas de mangue nestes locais. (SIMONI, MELLO, LOCH, 2006)
CONCLUSÃO: Todas as pessoas que dizem que o local do Shopping Iguatemi nunca foi manguezal têm objetivos obscuros e contrários à verdade fotográfica incontestável.
*Análise Pericial: SIMONI, MELLO, LOCH, 2006.
[Google Earth: -27.5901442099, -48.5150332599
OBS: imagem anterior à construção do Iguatemi]
2 comentários:
Perfeita argumentação. Se tivesse que mover uma ação judicial contra o Iguatemi, copiaria e colaria.
Quem investe tanto em publicidade é porque alguma coisa deve, ou não?
Pior: Um conhecido trabalhava no Ministério Público à época da construção, e contou foi movida ação contra a construção do shopping alegando o erro do licenciamento feito pela FLORAM. O resultado: O Juiz "entendeu" que isto não cabia ao Ministério, mas sim à fundação de meio ambiente (que já havia sido favorável) e arquivou o processo.
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